Cultura Empresarial
A declaração de Juliano César de Faria Souto, sócio-administrador do Grupo Fasouto, no título desta matéria, revela um sentimento que parece tomar conta de diversos setores brasileiros, inclusive, do empresarial: o de que o país está sem rumo. O Governo Federal ainda não apresentou um projeto para tirar o Brasil da crise - se é que este projeto existe.
A análise de Juliano César de Faria Souto sobre o atual momento econômico é realista - e vai além da mera crítica por si só. Isto não cai no perfil dele. Esse empresário demonstra uma séria preocupação com o país e com o Estado de Sergipe – e não apenas com os seus negócios -, questiona a política econômica do Governo Federal - ou a falta dela - e apresenta possibilidades e soluções.
Para Juliano César, por exemplo, é fundamental um pacto nacional em nome do emprego. “Não há como se falar em qualquer outra solução para uma sociedade sem que sua população possa ter o seu sustento garantido pela dignidade do trabalho”, avalia.
Para alcançar esse objetivo, Juliano César acredita em ações planejadas. Em planejamento estratégico em curto, médio e longo prazos. Quer na esfera particular ou na pública. Tanto que integra um grupo que está “planejando Aracaju” até 2055 - o Governo do Município está ativando o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico – Comden -, conforme divulgado com exclusividade pela Coluna Aparte de quarta-feira, 22.
Essa preocupação com uma administração planejada e minimamente justa socialmente permeia os planos presentes e futuros de Juliano César, tanto para o seu grupo, Fasouto, quanto para seu Estado, Sergipe. Para a Fasouto, o que está previsto – melhor, planejado - é expandir (sim, mesmo com a crise) e se fazer presente em todas as regiões de Sergipe. No final do ano passado, o grupo inaugurou uma loja de atacado autosserviço em Tobias Barreto, no extremo Sul do Estado.
Outro espaço está em construção – um Centro de Distribuição - em Nossa Senhora do Socorro, na Grande Aracaju, com previsão de abertura para o segundo semestre deste ano. O investimento é de R$ 20 milhões. Serão gerados 200 empregos diretos e 800 indiretos.
Essa visão empresarial diferenciada, casada a um projeto de Estado produtivo e inclusivo, ficou clara nessa breve entrevista que Juliano César de Faria Souto concedeu à Coluna Política & Negócios. Vale a leitura.
Política & Negócios - Quais são as demandas mais urgentes do Governo Federal para que o país volte a crescer?
Juliano César – A maior delas é empregos. Não há como se falar em qualquer outra solução para uma sociedade sem que sua população possa ter o seu sustento garantido pela dignidade do trabalho. As políticas compensatórias de renda são necessárias, mas têm que ser temporárias. O que resolve efetivamente é a geração de empregos. Governo, empresários e trabalhadores precisam sentar e fazer um pacto nacional pela geração de empregos. Não adianta ficarmos cada um com suas demandas e 13 milhões de pessoas desempregadas.
Política & Negócios - Qual a importância das empresas sergipanas no contexto do desenvolvimento e da promoção das economias estadual e local?
JC - A empresa local tem um olhar mais próximo, tem foco em sua área de atuação, reinveste aqui seus resultados, desenvolve capacidades técnicas e gerenciais de nossa juventude. Há um grande equívoco na apologia à globalização por si mesma. Os estados e os países têm que buscar um planejamento de longo prazo e fomentar o desenvolvimento local, agregando suas economias às correntes mundiais. Sem um planejamento, seremos eternos supridores de demandas externas sem que isto gere nosso desenvolvimento em longo prazo.
Política & Negócios - É necessário certo protecionismo?
JC - O que defendemos não é protecionismo. Mas não é justo que não tenhamos políticas de incentivo a empresas locais, enquanto grandes multinacionais os têm em suas origens e exigem dos governos locais concessões adicionais. Temos que formar, especialmente num Estado pequeno como Sergipe, uma cadeia de valor que una as empresas locais em prol do desenvolvimento econômico e social de todos.
Política & Negócios - O Grupo Fasouto vem há um tempo expandindo sua atuação para várias regiões de Sergipe. Tudo isso em meio a uma grave crise econômica. Como continuar investindo e crescendo numa economia em retração?
JC - É um grande desafio. Estamos vivendo a mais longa e profunda crise econômica dos últimos 50 anos. Nossa economia está sem rumo. Apenas estabilizamos a inflação com uma terrível taxa de desemprego e compressão de renda. Algo absurdo. O Governo Federal asfixia a economia e não dá sinais de como voltar a ter investimentos, gerar emprego e renda. Em nosso caso, empresa local, a chance de sobrevivência é continuar investindo e crescendo.
Política & Negócios - Mesmo na crise?
JC - Sabemos dos riscos, mas continuamos acreditando em nossa capacidade de melhoria interna e na preferência do comerciante e consumidor sergipano. Localmente temos um governo estadual sério, comprometido, mas precisando chamar os atores sociais e empresarias para pensar Sergipe 2050, como outros Estados estão fazendo muito bem.
Política & Negócios- Com o Centro de Distribuição em Socorro, o Grupo Fasouto atenderá o Estado de Sergipe como um todo? Esse centro tem algum diferencial dos demais?
JC - A localização de Socorro é estratégica, pois une fácil acesso de recebimento com expedição, além de contar com toda a infraestrutura urbana bem próxima. Com esse Centro de Distribuição estamos preparados internamente para suportar nosso plano estratégico até 2025. A região de Socorro, aliás, é exemplo de planejamento estratégico estatal de longo prazo. Tem tudo para se transformar num grande polo logístico, industrial e de serviços.
Política & Negócios - O senhor costuma diz que a filosofia do Grupo Fasouto, com suas lojas de perfis atacadistas em diversos municípios, é a de fomentar o crescimento econômico e o emprego sustentável nas regiões onde elas se encontram. Esta é a marca do Grupo Fasouto?
JC – Exato. Atuamos em Sergipe há 60 anos, desde a Disberj, com o meu pai Raimundo Juliano, tendo como diferencial o lema dele, que era o de negociar e fazer amigos. É assim que nos comportamos. Queremos estar próximos dos clientes, entender suas necessidades e dificuldades e crescer juntos.
Política & Negócios - Em avaliação divulgada agora em abril, o Grupo Fasouto foi considerado o maior atacadista distribuidor de Sergipe pelo Ranking da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados – Ranking Abad/Nielsen 2019. O que isso significa para o grupo?
JC – Agradecimento e reconhecimento. A Abad decidiu reconhecer o esforço e empenho das empresas regionais e criou a homenagem “Maior distribuidor por Estado”, como uma maneira de reconhecer que em cada Estado da Federação tem uma empresa local que se destaca.
Confira detalhes da entrevista e mais fotos na coluna de Maria Tereza Andrade no site Jlpolitica: http://jlpolitica.com.br/colunas/politica-negocios/posts/juliano-cesar-governo-federal-asfixia-economia-e-nao-da-sinais-de-como-voltar-a-ter-investimentos